De acordo com o Relatório de Direitos Humanos da Human Rights Watch (2020), pessoas LGBTQIAP+, especialmente transexuais e pessoas não binárias, ainda enfrentam altos índices de violência, exclusão social e discriminação no mercado de trabalho e no sistema educacional. No Brasil, um estudo realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) revelou que, em 2019, o Brasil foi o país com o maior número de
Assassinatos de pessoas transexuais no mundo, com uma média de uma morte a cada 48 horas.
Além disso, a pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020 indicou que, apesar de avanços nas políticas públicas e uma maior aceitação de algumas questões LGBTQIAP+, ainda persiste uma enorme desigualdade em termos de saúde mental, acesso a serviços e segurança pública para a comunidade. A falta de um apoio contínuo, que vá além das campanhas de visibilidade, contribui para a continuidade desses ciclos de violência e marginalização.
Para além de junho, o apoio à comunidade LGBTQIAP+ envolve uma série de práticas contínuas que devem se consolidar no cotidiano das instituições, organizações e na sociedade como um todo. As ações precisam ser estruturadas em políticas públicas eficazes que garantam direitos básicos como saúde, educação e segurança. O apoio à comunidade LGBTQIAP+ também envolve um compromisso de todas as esferas sociais para garantir a inclusão e o respeito à diversidade, especialmente em espaços como o ambiente de trabalho, o sistema educacional e os cuidados médicos.
O sociólogo Zygmunt Bauman, em sua obra “Modernidade Líquida”, destaca que, na sociedade contemporânea, muitas das questões sociais se tornam “líquidas” ou efêmeras. Ou seja, embora momentos de visibilidade como o mês do orgulho tragam à tona debates importantes, muitas vezes, esses debates perdem força rapidamente e não geram transformações duradouras. Isso significa que, ao invés de uma atitude pontual de apoio, a comunidade LGBTQIAP+ precisa de um acompanhamento contínuo em suas demandas por reconhecimento e proteção. A visibilidade durante junho não deve ser uma “onda passageira”, mas um marco de ações concretas que se estendam ao longo do ano.
Hands of a group of three people with LGBT flag bracelets. LGBT pride celebration.
A falta de apoio constante à comunidade LGBTQIAP+ pode ter um impacto profundo na saúde mental de indivíduos da comunidade. Estudos, como os realizados pela American Psychological Association (APA), apontam que a marginalização social, o estigma e a discriminação contribuem significativamente para o aumento de problemas como ansiedade, depressão, suicídio e transtornos de identidade.
Organizações e movimentos sociais têm um papel fundamental na criação de espaços seguros para a comunidade LGBTQIAP+, mas também na promoção de um apoio contínuo que envolva políticas públicas robustas e ações colaborativas entre diferentes setores da sociedade. A ativista e socióloga Judith Butler, em seu livro “O Que é o Que?”, aponta que a luta por reconhecimento não se trata apenas de direitos formais, mas de um reconhecimento social e cultural que deve ser incorporado no cotidiano.
Portanto, o apoio à comunidade LGBTQIAP+ não pode ser limitado ao mês de junho, mas deve ser uma prática constante e presente em todas as esferas da sociedade. Para além da visibilidade, é fundamental a criação de políticas públicas efetivas, o incentivo ao respeito nas relações interpessoais e a garantia de direitos básicos. O mês do orgulho deve servir como um ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre os desafios enfrentados por essa comunidade e para a construção de uma sociedade mais inclusiva, igualitária e justa. A luta por igualdade, liberdade e dignidade para a população LGBTQIAP+ não pode ser uma agenda sazonal; ela deve ser parte integrante do nosso compromisso diário com os direitos humanos.
Escrito por: Ricardo Narche