Você sabia que no dia 28 de agosto é comemorado o Dia Nacional do Voluntariado? E por que esta data é tão importante? Há nove meses, eu, Rafa Munduruca, venho atuando como voluntário da EternamenteSou, colaborando na produção de conteúdo para este Blog, revezando as publicações com o André Bueno, sob a coordenação do Matheus Braz. Aproveitei este dia para conhecer e conversar com pessoas que também atuam ou atuaram no Programa de Voluntários da ONG, buscando entender suas motivações e conhecer suas experiências e desafios neste trabalho fundamental. Atenderam a este convite as psicólogas Marcela Marcondes e Valéria Fátima da Rocha, a professora de inglês Tetê Tauile e o publicitário Matheus Cunha.
Marcela Marcondes, mestranda em Psicologia pela UNESP/Assis, psicanalista em formação e voluntária desde 2020, conta que começou a trabalhar na ONG um pouco antes da pandemia começar e que vem desempenhando um trabalho de escuta sobre o luto. “Desde o final de março, comecinho de abril, pude abrir salas de lives online, para que os idosos assistidos pela ONG e os demais voluntários pudessem participar e conversar um pouquinho sobre o luto, este tema que é tão tabu e que, desde o ano passado, tem estado tão presente na mídia, e na vida”, conta Marcela.
Para isso, ela buscou estabelecer um espaço seguro no qual se pudesse falar abertamente sobre medos, receios e outros temas que pairam o imaginário sobre o luto. “Percebi a importância em conversarmos sobre os diversos tipos de lutos, para além daquele provocado pela pandemia de Covid-19. Levantei os temas que os idosos gostariam de falar e trabalhar a partir dessas lives, e ali surgiu um tema em comum: o luto de um “armário” LGBT, um “armário” de uma vida, que demanda uma elaboração de luto continua e diária”. A partir de então, foram criados grupos terapêuticos específicos e fechados. Os encontros sobre esse luto da vivência LGBT no “armário” acontecem quinzenalmente, e outro, criado especificamente para tratar sobre luto por viuvez e envelhecimento LGBT, ocorre uma vez por semana. Além dos grupos de apoio e discussão, Marcela também realiza atendimentos individuais. Todo esse trabalho é feito de forma voluntária, e estão acontecendo de forma remota e online.
Segundo ela, esta tem sido “uma experiência muito rica e potente, que tem me feito repensar também meu trabalho fora da EternamenteSou, assim como o tema do meu projeto de pesquisa de mestrado. É pensar um pouco o que são as demandas específicas do envelhecimento LGBT. E de como essas pessoas idosas que vivenciam a viuvez e o luto, e que muitas vezes não são escutadas. São lutos que muitas vezes nem podem ser nomeados”. De acordo com Marcela, ela acredita estar fazendo a diferença na vida desses indivíduos. “Esses espaços têm sido de extrema importância para validar a dor do outro, ouvindo a história, fazendo com que essas pessoas possam contar sobre suas próprias vivências”.
Seguindo nos diálogos sobre o trabalho voluntário, pude reencontrar virtualmente com Tetê Tauile, com quem havia conversado para uma reportagem sobre memória e carnaval. Vale a leitura! Esta professora de idiomas, de 67 anos, lembrou que entrou na EternamenteSou como assistida. “Foi extremamente importante pra mim, neste momento de isolamento social, poder interagir com pessoas LGBTQIA+ de vários lugares do país. Tentei me informar ao máximo sobre as atividades e fui me envolvendo a ponto de querer contribuir de alguma maneira. Foi quando me convidaram a dar aulas de inglês online”.
Tetê conta que não tinha nenhuma experiência em aulas online. “Precisei aprender, inventar e me adaptar. Tem sido um desafio com retorno delicioso, com alunos que se tornaram amigos. Me faz muito feliz sentir que, além de ensinar a língua, promovemos a socialização. E é essa satisfação e orgulho que move um voluntário”.
Valéria Fátima da Rocha, 48 anos, que também é psicóloga, me contou ter conhecido a EternamenteSou participando do 1° Seminário de Velhices LGBT, ainda em 2017. “A partir de então comecei a minha ação voluntária agregando novos conhecimentos e olhares diante das diversidades LGBTQIA50+”.
De acordo com ela, que também atua no núcleo de atendimento psicológico “o voluntariado permitiu um considerável avanço pessoal, profissional e o engajamento político e social. Também como um espaço de trocas de experiências e afetos, despertar de capacidades e mobilizações para as transformações sociais. Não tenho dúvida que hoje sou uma pessoa melhor e mais realizada!”
O publicitário Matheus Cunha, de 24 anos, foi voluntário da EternamenteSou na cidade de São Paulo. Ele conta que tinha o desejo de realizar trabalho voluntário, mas que a maioria das organizações sociais tinham processos seletivos muito complexos. No ano de 2018, conversou então com o amigo Matheus Braz, que apesar da pouca idade é um dos voluntários em atividade a mais tempo na ESou, que lhe convidou para colaborar no núcleo de comunicação, que estava em formação. Cunha conta que já havia se questionado sobre como viria a ser sua velhice, sendo gay, e que ficou muito feliz em saber que havia pessoas que estavam pensando sobre o tema. Decidiu então participar deste coletivo. Começou seu trabalho como voluntário colaborando com a organização do Café & Memórias LGBT+50, que aconteceu no Parque Mario Covas. Ele conta que a ONG ainda não tinha uma sede, mas tinha uma rede de pessoas, amigas e conhecidas, que acreditavam muito nesse propósito e que essa experiência lhe “deu um gás enorme”.
De acordo com ele, a ONG foi evoluindo, conseguiu um espaço no Centro de Cidadania do Mackenzie, e ali, naquele espaço cedido e provisório, começaram a ser formadas as equipes de voluntários de administração, comunicação e cultura, entre outras. Sua segunda colaboração em eventos ocorreu também em 2018, durante o 2º Seminário Velhices LGBT, no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo. Quando percebeu, o tempo já havia passado e ele já estava como voluntário há mais de dois anos. “Se você quer ser voluntário, a EternamenteSou é perfeita pra você. É uma sensação muito linda ver que as pessoas realmente te abraçam, realmente acreditam no propósito e há muita liberdade para fazer e propor coisas, de participar. E isso é muito relevante”. Para ele, perceber que este não era um projeto apenas de São Paulo, mas que poderia mudar o cenário das velhices LGBTs em todo o país, trouxe uma felicidade muito grande. “Foi muito significativo enquanto profissional, como publicitário, e também como pessoa poder perceber que pude contribuir para uma ideia que iria mudar a vida de milhares de pessoas. Pessoas maravilhosas que eu puder conhecer, como a Ângela, a Uilma, o Celso, entre muitos outros que passaram pela ONG”.
Matheus Cunha conta que um dos momentos mais divertidos de sua trajetória pela ONG foram aqueles em que ele pode discotecar. Além de publicitário, ele é também DJ e pôde animar festas como o Baile de Halloween oferecido pela ESou aos idosos participantes. “Ser voluntário é isso, se doar. Doar com muita vontade. É ver que com pouco, com qualquer coisa que você saiba, você já consegue contribuir na vida de outras pessoas. E isso faz muita diferença. Ser voluntário faz muita diferença na vida das pessoas, especialmente neste cenário do Brasil em que estamos vivendo. É fundamental que a gente estimule mais pessoas a serem voluntários. A gente contribui, mas também recebe muito em troca”.
Como forma de valorizar o trabalho de seus voluntários, a EternamenteSou elaborou, em 2021, a Agenda de Desenvolvimento do Voluntariado. Organizado em módulos, este ciclo formativo vem sendo conduzido por diversos profissionais que abordam temas como escuta empática, comunicação não violenta e a importância do trabalho voluntário. Tive oportunidade de participar desses encontros e são espaços momentos de descontração, escuta e aprendizado.
Ficou interessado em atuar como voluntário da EternamenteSou, se apresente através do e-mail gente.esou@gmail.com e conheça as oportunidades disponíveis.