Um papo reto sobre HIV

Um papo reto sobre HIV

André Sobreiro, 37, é produtor cultural em São Paulo e descobriu ser portador de HIV em 2012, quando um ex-namorado lhe disse que descobriu ser positivo. Na hora, sem conhecer nada do tema, recorreu à internet e descobriu que poderia fazer o teste perto de sua casa. Naquele dia mesmo ele descobriu ter sido infectado. No começo, ele diz: 

“Foi bem difícil. Todo um novo mundo se abria para mim e era bem assustador. Mas desde o começo contei com acompanhamento médico.”
André Sobreiro

Começou a fazer uso da medicação no ano seguinte e, alguns meses depois já estava indetectável, algo que segue até hoje. Foi contando para as pessoas conforme elas ganhavam sua confiança, diz. André revela que este fato nunca foi um segredo, mas, ao mesmo tempo, não era algo público. Por meio da terapia ele diz ter percebido o quanto isso o atrapalhava. Sentia que falava sobre o tema com as pessoas mas acabava sempre desconversando, como se ele soubesse por pesquisas e não por vivência. Ao longo de um ano de terapia ele debateu bastante e se preparou para tornar isso público, até se tornar ativista sobre assuntos relacionados ao HIV. 

“Isso foi há cerca de um ano e, ainda assim, por vezes, esbarrei em preconceitos. Mas, a parte boa, além da leveza de ser eu mesmo, é poder aos poucos ajudar as pessoas a encarar essa descoberta. Pessoas me ajudaram e poder retribuir isso é muito gratificante.”

André se sentiu à vontade para compartilhar com o blog EternamenteSOU mais detalhes sobre o HIV, quais técnicas de prevenção ele vem incentivando e como lidar com o preconceito. 

Entendo que, como ativista sobre temas relacionados ao HIV, seu papel é nutrir todo o público que você alcança com informações importantes. O que é fundamental que as pessoas saibam sobre o HIV? 

Ao meu ver, o mais importante é o entendimento de que HIV é uma doença e apenas isso. Como é a gripe, a catapora, a hipertensão, o câncer. A vida de um HIV+ ainda sofre bastante com estigmas e preconceitos baseados em pura desinformação. Entender que é uma doença perfeitamente controlável e que todo mundo deveria se testar regularmente é condição indispensável para que a gente controle a doença e torne a vida daqueles que, como eu, já convivem com ela, seja mais leve. 

O que mudou dos anos 80 para os dias de hoje?

Muita coisa. Nessa época, o HIV, então erroneamente chamado de “câncer gay” era quase que uma sentença de morte. Hoje em dia, você ser HIV+, com um acompanhamento e os cuidados, é possível ter uma vida absolutamente normal. 

Outros dois pontos fundamentais são a ciência e o público. O primeiro é importante para entender que temos medicação e o Brasil ainda é referência mundial nesse tratamento, que está cada vez mais avançado, garantindo maior proteção e efeitos colaterais menores. Antigamente os poucos remédios atuavam apenas para amenizar, hoje eles estão aí para tornar nossa vida plena e saudável. 

Por fim, o público. Esqueça o grupo de risco. Agora temos o comportamento de risco e ele não está ligado a nenhuma orientação sexual. Derrubar essa barreira, além de reduzir o preconceito com pessoas HIV+ ainda contribui para a redução da LGBTfobia. 

Quais são as técnicas de prevenção e cuidados que você incentiva? 

Informação, informação e informação. Temos, hoje em dia, uma série de opções para as pessoas se cuidarem, tendo elas o vírus ou não. Camisinha interna e externa, PREP, PEP, TARV, tudo isso está à nossa disposição e deve ser usado. 

Fazer exames regularmente a cada seis meses e conversar com médicos para encontrar a melhor maneira de prevenir ou, caso já possua o vírus, é importante evitar a propagação e as agressões ao nosso corpo. 

Outra técnica que eu valorizo muito é o diálogo. Dialogue com seu ou seus parceiros. Cada um é responsável pela sua saúde e pelo seu corpo, mas é importante ter essa troca, acordos serem feitos e a vida sexual ser algo saudável e prazeroso. 

Sabemos que o preconceito com relação às pessoas soropositivas persiste. Qual é a melhor forma de lidar com o preconceito? 

Aprenda a ouvir e a ser empático. Em minha jornada, inclusive na pessoal, é comum encontrar nas pessoas HIV+ um medo grande de contar para família e parceiros por temerem a rejeição, de ser visto apenas como um vírus, de sofrerem na pele o preconceito. 

Eu costumo dizer que tenho certeza absoluta que todo mundo possui um HIV+ no seu círculo próximo. A questão é saber se ele é ou não. E talvez ele não tenha te contado por medo.

Tratar o HIV como algo do tamanho que ele realmente é ajuda bastante a tornar o preconceito menor. E se você sabe de uma pessoa HIV+, não seja a pessoa que se silencia diante de piadas e preconceitos sobre o tema. Não é preciso viver com HIV para ser um ativista da causa. 

Para quem quiser se aprofundar no tema, existe algum grupo de apoio ou referências que você gostaria de compartilhar?

Olha, eu recomendo fortemente os influenciadores do tema. O Doutor Maravilha (@doutormaravilha) e o Lucas Raniel (@lucasraniel_) são hoje meus favoritos por falarem sobre com clareza, tranquilidade é algo que me agrada muito. Cuidado, informação e tesão podem e devem andar lado a lado e os dois são ótimas fontes sobre o tema.

Para aprofundar este tema, o blog Eternamente Sou convidou o Dr. Sidnei Pimentel, médico infectologista pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, prestando atendimento no Centro de Referência e Treinamento em DST/aids de São Paulo, para explicar conceitualmente sobre as técnicas de prevenção e os tratamentos mais adequados. 

Sidnei Pimentel, infectologista

Dr. Sidnei, o André Sobreiro citou algumas formas de prevenção do HIV como PREP, PEP e TARV, além da camisinha. Poderia explicar um pouco mais sobre esses métodos? Como funcionam e a quem são  indicados?

Há alguns anos trabalhamos a prevenção ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis sob o olhar da prevenção combinada, que basicamente significa combinarmos as técnicas de prevenção que melhor se adaptam à nossa vida e rotina.

Para alguns ainda continua sendo apenas a camisinha, que é altamente eficaz e ainda previne a gravidez. Mas e se acontece uma relação sem camisinha ou na qual ela rompe? Nesse caso a pessoa tem até 72h para  iniciar o uso de uma combinação de medicamentos usados para o HIV, que deve ser tomada durante 28 dias. É o que chamamos de Profilaxia Pós-Exposição ou PEP. 

Algumas pessoas optam por um outro método, muitas vezes associado à camisinha e que, no caso de falha ou não uso desta, evitaria a necessidade da busca emergencial da PEP: a Profilaxia Pré-Exposição, ou PrEP. Nesse caso a pessoa já usa uma combinação de 2 medicamentos em 1 comprimido único diário, utilizado para prevenir o HIV.

É importante reforçar que em ambos os casos a proteção é exclusivamente contra o HIV. Um outro método que o André citou foi a TARV, ou Terapia Antirretroviral. Nesse caso, ele se refere ao uso dos medicamentos pela pessoa que vive com o HIV, atingindo o objetivo do tratamento, que é manter o vírus controlado no sangue, “indetectável” como chamamos. Sabe-se já há alguns anos que pessoas vivendo com o HIV fazendo uso correto do tratamento e indetectáveis por mais de 6 meses não transmitem mais o vírus (indetectável significa intransmissível). 

Hoje qual é sua orientação aos pacientes com relação à prevenção do vírus HIV?

Nossa orientação atual é que a pessoa escolha os métodos que melhor se adequem a sua vida.  Numa conversa, um profissional de saúde pode lhe mostrar as opções disponíveis, suas vantagens e desvantagens, bem como atualizar as vacinas para hepatites virais e HPV, quando indicadas. 

Quais são os centros mais adequados para que o público em geral possa fazer o teste?  

Via de regra os serviços especializados em testagem ou atendimento de IST/aids são os lugares mais recomendados. No site www.aids.gov.br é possível fazer uma busca por estado e cidade do país. 

Os autotestes de HIV disponíveis nas drogarias são confiáveis?

Sim, eles são testes com alta sensibilidade e especificidade. 

Se o teste der positivo, o que a pessoa deve fazer?

A pessoa deve se dirigir a um Centro de Testagem ou tratamento de IST/aids para repetir o teste e esclarecer a situação. 

Minha indicação é que todos devem conversar com profissionais da saúde sobre suas questões sexuais. Muita gente nunca fez isso por vergonha. É fundamental que todos se protejam corretamente. 

Contatos:

André Sobreiro, produtor cultural e ativista lgbt: @andresobreiro_

Dr. Sidnei Pimentel, médico infectologista: @Sidpim72

André Bueno
Profissional de Marketing e Comunicação, com extensa experiência em geração de demanda e aceleração dos negócios. Voluntário em projetos relacionados à Diversidade e Inclusão e causas LGBT+.

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