Por Diego Felix Miguel
O grande erro é achar que tudo é sobre nós e sobre as pessoas que integram nossa bolha, ou a um grupo majoritário, que em determinados contextos, estão em condições de privilégio. Madonna representa milhares de pessoas que estão envelhecendo, entre diferentes realidades e condições, principalmente aquelas que são – ou por muitos anos foram negligenciadas pelo Estado, pela ciência e por nós!
Ela provoca uma visibilidade importante para aqueles que a sociedade força o silenciamento e a invisibilidade a todo instante. Suas lutas marcaram o envelhecimento e a velhice de um grupo enorme invisibilizado pelo machismo, racismo, LGBTfobia e todos aqueles que transgridam normas sociais, em culturas que têm por base o conservadorismo, o fundamentalismo e higienismo.
Sua biografia é riquíssima e trouxe grandes avanços, principalmente pela perspectiva identitária. O show de Copacabana foi didático.
Foto: Lucas Ramos / Brazil News
Madonna representa muitas mulheres idosas de hoje, que seguem lutando pela igualdade de poder e denunciam as injustiças sociais, conduzidas pela liberdade da sexualidade, pelo direito ao prazer, e pela garantia de direitos básicos – inclusive contra a violência e feminicídio.
Representa mulheres trans e travestis que tiveram seu envelhecimento marcado por violência física e social, como também aquelas que tiveram seu envelhecimento interrompido pela morte.
Representa milhares de gays, lésbicas e pessoas bissexuais que desafiaram a sentença de morte imposta nas décadas de 1980 e 1990 por conta da epidemia da AIDS. Os que conseguiram chegar na velhice sabem bem da sua importância para a visibilidade das questões que estavam sendo postas na época, tanto na ausência de políticas (porque não falar de boicotes, não é mesmo?) quanto na garantia de acesso ao tratamento.
Foto: Reprodução Instagram
No show de Copacabana, ela até fez menção à STONEWALL, um marco para o fortalecimento do Orgulho LGBT e na luta de direitos. Sim, Madonna fala diretamente com essa comunidade, que também é idosa, e segue sendo invisibilizada diariamente por discursos hegemônicos.
Madonna também é uma importante representante contra o IDADISMO. Ela é uma visionária que insiste em ter projetos de vida numa sociedade que quer anulá-la. Seja por suas intervenções estéticas – afinal ela é livre – seja por suas limitações físicas, seja meramente por conta da idade.
Madonna rompe com a imagem de pessoas idosas que estamos acostumados a ver – ou pior, não queremos ver! Imagina uma senhora de 65 anos simulando masturbação, beijando uma mulher trans na boca ou fazendo coreografias de cunho sexual? Pois é! Libertário.
Reprodução Globo
É essa velhice que me faz seguir apaixonado pela Gerontologia – com profundidade conceitual! Que bom que Madonna talvez não represente minha mãe, minha sogra, nem minhas avós. Possivelmente, apesar de todo sofrimento que tenham vivenciado ao longo da vida, encontraram meios e espaço para construírem suas lutas…
Mas infelizmente, nem todas as pessoas idosas tiveram a mesma sorte que elas.